O modelo de hospital que foi projetado a partir de 1931, com a construção do Hospital Português na Barra, nos remete a análise dos novos padrões da medicina moderna e do hospital empresa. Nessa trajetória destacam-se os pontos principais da evolução histórica da medicina hospitalar, em especial a tradição portuguesa.

O hospital quando posto em uma análise “macro” transcende as suas funções estritamente técnicas para o desempenho dos papéis sociais, econômicos, ideológicos, científicos e políticos articulando-se com diferentes sistemas de ação detentores dos poderes de “modelagem e legitimação”, ou seja, toda a Sociedade Civil.

O estabelecimento de saúde atual é uma instituição com base jurídica e material que lhe é concedida pelo Estado e legitimado através do poder político; jogo das relações sociais; e missões, finalidades, valores, regras e normas, determinadas pelos elementos culturais de cada comunidade.

O hospital gerindo como empresa é uma organização/unidade social ou agrupamento humano especializado construído e reconstruído intencionalmente a fim de alcançar objetivos específicos. Em sua estrutura reúne diferentes categorias profissionais com a finalidade de manter a excelência de serviço ao paciente. A própria fundação da Real Sociedade é o reflexo desse serviço de atendimento ao cliente.

O nosocômio, numa cultura ligada a questões da vida e da morte, como a nossa e, às diferentes representações de saúde/doença; tem um papel social relevante, estabelecendo inclusive novas condutas culturais; novas maneiras de gerir a sociedade.

Atualmente, o que é novo é a organização hospitalar, não a sua função. O que caracteriza o hospital moderno é a ruptura com o conceitual, isto é, à trajetória que vem do social, prestação assistencial, ao sanitário, produção de cuidados de saúde, a evolução do conceito de hospitalidade e caridade para a prestação de serviço.

O que se apresentou como atual nas sociedades modernas foi a emergência dos sistemas integrados de saúde. A instituição neste modelo manifesta-se como necessária para o tratamento, a cura, reabilitação e reintegração além de ser um lugar de ensino e de investigação científica e difusão das ciências biomédicas.

Sensível às mudanças e comprometida com a constante melhoria dos serviços prestados, a Sociedade de Beneficência resolveu apostar na modernização do Hospital. Imbuída deste propósito, a Diretoria decidiu transferir o Hospital para o centro da cidade. A propriedade que deveria sediar o presente nosocômio teria que ser de fácil adaptação e possuir em anexo uma boa área de terreno que permitisse o ampliação da edificação.

Vários terrenos e propriedades foram examinados na localidade da Vitória. O primeiro a chamar a atenção foi o casarão do antigo Colégio Selvão, todavia, estava em ruínas e dificilmente poderia ser recuperado. Outra casa que inicialmente era adequada para o empreendimento foi a pertencente ao Senhor José Joaquim Fernandes Dias, contudo, não estava no padrão estabelecido pelos planos da Real Sociedade. O mesmo aconteceu com um terreno na Avenida Araújo Pinho, de propriedade do Senhor  Antônio Carlos de Soveral.

Surgiu a notícia que o Palacete José de Sá, situado na Avenida Princesa Isabel, n.º 2, Barra Avenida, estava à disposição para a compra. Analisando os requisitos desejados resolveu a Diretoria comprar o imóvel. A venda foi realizada pelo Dr. Francisco de Sá, em nome de sua mãe, a viúva Exm.ª Senhora D. Maria Teixeira Ribeiro de Sá. A escritura foi lavrada em 22 de agosto de 1930.

Iniciou-se as obras de adaptação, sob a constante e dedicada orientação do Médico Diretor Professor Fernando Luz. O Hospital ficou assim estruturado: no andar térreo, o salão nobre, o Gabinete de Raio X, a Seção de Fisioterapia e Administração, a rouparia, três enfermarias para sócios, aparelhos sanitários e nas duas alas, de um lado o ambulatório, com duas salas; uma para consultas e outra para curativos, servidas ambas de instalações sanitárias. Na outra ala, ficava a copa, cozinha e as dependências dos trabalhadores. No primeiro andar localizavam-se os quartos de pensionistas, em números de sete e mais um apartamento de luxo, com quarto de banho, a sala de operações e anexos. Externamente foram construídos um pequeno pavilhão de isolamento, com três quartos azulejados, servidos por sanitários individuais; além de uma Capela.

A Real Sociedade teve também a preocupação e o cuidado de adquirir os melhores equipamentos e instrumentos médicos da época, comprando-os todos no exterior. Tal fato mostra a intensa dedicação das sucessivas Diretorias em manter o Hospital Português sempre atualizado.

Em 7 de junho de 1931, com a presença das autoridades civis e militares, bem como as autoridades eclesiásticas, foi inaugurada a Nova Sede do Hospital Português da Bahia. Com destaque para os discursos do Diretor Carlos Lacerda, do Cardeal, D. Augusto Álvaro da Silva, Arcebispo de Salvador e do Senhor Dr. Fernando Luz.

O corpo médico do Hospital era composto pelos Professores Fernando Luz, Eduardo Diniz Gonçalves e o Radiologista, Dr. Orlando Ribeiro. Prestavam serviço gratuitamente no Hospital Português os doutores Mathias Bittencourt, Alfredo Bourreau e Colombo Spínola.

Em 1932 assumiram a administração do Hospital as Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas, hoje Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC). Primeira Comunidade de Irmãs que chegavam para trabalhar no Hospital Português Irmã Esperança da Glória (Superiora), Irmã Olandina do C. de Jesus (Enfermeira), Irmã Leopoldina Nogueira (ajudante) e Marieta Gonzaga (postulante). Entretanto, em poucos meses a Direção do Hospital passou para a Irmã Ilidia da Anunciação. Uma nova casa, o Asilo Santa Isabel, exigia a presença de Irmã Esperança.

O prédio e os terrenos do antigo Hospital Português no Alto do Bonfim, que ficaram vazios após a mudança, foram vendidos à Comunidade das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras Portuguesas. Estas transferiram para lá a sede do Noviciado Casa de Formação, que funcionava no Colégio São José. Em 6 de janeiro de 1938, o Noviciado inaugurava sua nova Casa que foi intitulada Convento da Sagrada Família.

Merece destaque no exercício de 1933-34, a inauguração do retrato a óleo do Professor Fernando Luz, homenagem recebida pelos grandes serviços prestados ao Hospital Português e a Real Beneficência e a admissão do Dr. Adriano Pondé, em substituição ao Dr. Orlando Ribeiro.

Em 15 de agosto de 1936 foi lançada a pedra fundamental da nova construção, a cargo da Odebrecht.

Em 29 de Maio de 1938 foi inaugurado o novo pavilhão, anexo ao Hospital já existente, com cinco pavimentos e instalações de Raio X, ambulatório, trinta quartos e duas salas de operações modernamente equipadas. Na solenidade de inauguração, além da presença da comunidade portuguesa baiana e das Diretorias da Real Beneficência e do Gabinete Português, merecem destaque o Interventor Federal Landulpho Alves e o Cardeal da Silva.

Destaca-se também a reforma dos Estatutos em 17 de março de 1940 a fim de enquadrar a Real Sociedade nas novas Leis brasileiras para instituições filantrópicas e assistenciais.

No dia 2 de fevereiro de 1942, ocorreu o falecimento do Médico Diretor Prof.º Dr. Fernando Luz, que durante 30 anos prestou relevantes serviços à Real Sociedade e ao Hospital Português, procurando sempre meios para melhorá-lo e modernizá-lo. A Diretoria permaneceu 30 dias de luto e realizou reverências perante os familiares concedendo o título de Grande Benemérito.

Neste 147 anos de história da Real Beneficência, podemos considerar que o Dr. Fernando Luz, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFBA, foi um dos personagens mais relevantes. Este médico foi o responsável por todo projeto de modernização do Hospital Português. É a partir da década de 1930 que o nosocômio se enquadra ao novo modelo de estabelecimento de saúde/empresa. O Dr. Luz foi amplamente dignificado e congratulado em sua época, mas merece ser sempre lembrado pelos anais da história.

Com o objetivo de sempre progredir, a Diretoria iniciou o planejamento de novas ampliações no Hospital. Em 1943 começava-se a construir o novo pavilhão, que ficou assim configurado: sala para serviço fisioterápico, laboratório de análise clínica, ampliação do bloco cirúrgico, com a construção de mais duas salas e a instalação da Maternidade isolada no 2º andar. O Hospital Português passou a ter 15 apartamentos, 73 quartos, 8 enfermarias e 150 leitos. O último andar foi estruturado para acomodar a clausura das Irmãs Hospitaleiras. Adquiriu-se também, uma aparelhagem completa de rádio-diagnóstico, inclusive Raio X portátil. Em 15 de agosto de 1944, foram inauguradas as novas instalações, com missa solene na Capela do Hospital.

Sempre prestadora de serviço à comunidade soteropolitana, a Real Sociedade ganhou o título de Sociedade Nacional do Governo Federal, expresso em publicação do Diário Oficial do dia 8 de agosto de 1947. A partir de então, a instituição que possuía status de estrangeira, tornou-se uma sociedade brasileira.

Observamos que nos anos de 1945 a 1965 grandes reformas de ampliações foram realizadas no Hospital Português, uma nova aquisição de equipamentos visando a constante atualização das unidades médicas. Em 1948, comprou-se mais duas casas vizinhas ao Hospital. Em 1950 inaugurou-se as novas instalações de Raio X e entronou-se a imagem de Nossa Senhora de Fátima, vinda de Portugal, na Capela do Hospital Português. Em 1956, um novo impulso levou a Diretoria a encampar a construção de um moderno pavilhão para instalar a Maternidade.

O Hospital Português tomou grande impulso desde 1957, data de seu 1º Centenário. Por esta ocasião, foi inaugurada a Maternidade, a 5 de junho, com a honrosa presença do Excelentíssimo Sr. Presidente da República de Portugal, General Francisco Higino Craveiro Costa. Desde, então, as inaugurações vêm se sucedendo, sendo que a mais importante, a do novo pavilhão, em dezembro de 1997, pôs o Hospital entre os primeiros do Brasil. A solenidade marcou um momento histórico na vida da Cidade, estando presentes, mais uma vez, autoridades das categorias: eclesiásticas, civis e militares, destacando-se o Eminentíssimo Cardeal Augusto Álvaro da Silva, o Governador Luiz Viana Filho, o Embaixador de Portugal José Manoel Fragoso. O novo Pavilhão que dá moderno aspecto arquitetural ao conjunto hospitalar, em contraste com o primitivo prédio anexo, passa a situar-se entre os melhores e mais aparelhados nosocômios do País.

O Hospital Português dispunha, em 1957, de um centro cirúrgico com 10 salas para cirurgias, de um ambulatório no qual se integrava o maior número de especialidades médicas e o quadro funcional era composto de 512 trabalhadores, entre médicos, dentistas, enfermeiras e auxiliares, técnicos e funcionários administrativos.

A Diretoria notou que o movimento de pacientes aumentava a cada ano, recorrendo assim, a mais uma grande reforma em 1966.

Em 1974 a estrutura do Hospital Português consistia em 254 leitos, onde realizaram-se cerca de 700 internamentos por mês. Contava com um Centro Cirúrgico dos mais bem equipados, que satisfazia a um movimento cirúrgico intenso, cerca de 25 cirurgias diárias. Agregava 7 salas, sendo 3 destinadas às intervenções otorrinolaringológicas e 4 às cirurgias gerais. Uma sala de preparo de material cirúrgico e de esterilização, com 3 auto claves e 2 estufas. Em anexo, existia um Centro de Recuperação dos Operados (CRO), e também o serviço de transfusão de sangue e de anatomia patológica. No primeiro andar funcionava um laboratório de análise química e bacteriológica de grande porte, equipado com os melhores e mais sensíveis aparelhos de precisão, utilizados em dosagens bioquímicas. Havia também um laboratório para provas pulmonares. O quarto andar do Hospital era destinado a atendimentos obstétricos inclusive com centro obstétrico separado e, ao lado deste, um berçário modernamente equipado, com sala de encubadora e do aparelho de fototerapia, usado nos casos de icterícia dos recém-nascidos. Uma média de dez crianças nasciam diariamente. Ainda neste andar, existiam as salas de cirurgias, já mencionadas, bem como, a da farmácia, para atendimentos internos do Hospital, e, finalmente, um conjunto de salas destinadas à fisioterapia, ortopedia e audiometria. No subsolo, o Hospital Português albergava dois serviços de primordial importância, o Serviço de Radiologia e o Departamento de Radioterapia, contando com a estrutura física de três amplas salas de Raios X, equipadas com diferentes e modernos aparelhos capazes de satisfazer aos mais exigentes e sofisticados procedimentos radiológicos, dispondo de um sexiógrafo de circuito fechado de televisão e amplificador de imagem, um transformador potente, um termógrafo e mais uma sala de revelação com máquina de revelar automática. O Departamento de Radioterapia, por sua vez, não menos equipado, desenvolveu um atendimento especializado, dirigido à oncogênese.

A Real Sociedade também investiu na construção da Quinta Portuguesa, espaço que oferece uma agradável opção de hospedagem e lazer. O local ocupa mais de 400 mil m2 de área verde repleta de jardins, bosque, diversas árvores frutíferas, barragem e salões de eventos, devidamente equipados, para a realização de cursos, seminários, atividades afins e outros acontecimentos, além de apresentar os melhores pratos da cozinha de Portugal, situada na Rodovia Aeroporto CIA Km 4,5. Ideal para reunir a família, amigos ou simplesmente retirar-se da agitação do dia-a-dia e buscar a contemplação, a meditação e a paz de espírito.

O Hospital Português contou, ao longo dos anos, com o trabalho filantrópico de suas Diretorias, que sempre exerceram suas funções, primando pelo objetivo básico da entidade: promover a saúde. Hoje, a Instituição é reconhecida de Utilidade Pública por decretos dos Governos Municipal, Estadual e Federal, pelos serviços prestados à comunidade baiana.

O Hospital Português tem por meta oferecer à sociedade serviços médico-hospitalares de excelente qualidade, norteados por critérios éticos e científicos, apresentando o que há de mais avançado e eficaz na prevenção, tratamento e reabilitação da saúde.

Imbuída na mesma filosofia assistencial que a tornou uma Instituição pioneira no desenvolvimento de ações humanitárias, a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência Dezesseis de Setembro tem aumentado sua atuação através do Centro de Estudos Professor Egas Moniz, português, detentor do Prêmio Nobel de Medicina em 1949, patrocinando cursos, congressos, palestras e jornadas médicas, como também, contribuído para a formação de médicos estagiários, residentes e estudantes no período de internato, além de subsidiar todos os estudos clínicos e epidemiológicos do Hospital.

A biblioteca situada no 5º andar do novo prédio do Centro de Recursos Humanos, possui um acervo de livros, periódicos nacionais e estrangeiros, devidamente cadastrados e um serviço de informática atualizado. O Departamento Científico-Cultural vem desenvolvendo didáticas de pesquisa e editoriais.

O Hospital Português é pioneiro em transplantes no Norte e Nordeste. Realiza transplantes renais desde o ano de 1980 e de coração há mais 15 anos.  E é especialista também em transplantes de medula óssea, córnea e fígado.

É uma organização moderna, que não poupa esforços para empregar a melhor tecnologia em equipamentos e para investir no desenvolvimento pessoal e profissional dos seus colaboradores, valorizando-os e incentivando-os, para continuar crescendo, a exemplo da recente inauguração do Centro Médico, em 2001, para oferecer sempre o melhor atendimento nas diversas especialidades médico-hospitalares, sem nunca esquecer os ideais que deram início a esta Instituição: prestar assistência a quem necessita.

Av Princesa Isabel, 914, Barra Avenida, Salvador BA, CEP 40.140-901 - Tel: (71) 3203- 5555